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09/09/2025

Futuros cientistas desbravam o mundo dos insetos vetores


Por Vinicius Ferreira

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De Moçambique para o Espírito Santo. E, de lá, para um cenário paradisíaco no Rio de Janeiro. Com o objetivo de proporcionar melhores condições de saúde para a população de sua terra natal, Enes Xavier, de 32 anos, optou por viver uma experiência única de imersão no mundo dos insetos vetores e dos patógenos transmitidos por eles. 

Entre 1º e 7 de setembro, ele e mais 18 futuros cientistas escolheram o ‘Curso Internacional de Determinantes Ecológicos da Dinâmica das Doenças Transmitidas por Vetores (Detvetores)’ para aprofundar seus conhecimentos no tema. 


Enes (segurando a armadilha) em atividade de campo com alunos e professores do Detvetores. Foto: Max Gomes

 

Realizada no Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em Ilha Grande, no litoral Sul do estado do Rio, a atividade contou com aulas teóricas e práticas sobre diferentes insetos e doenças de transmissão vetorial, abrangendo aspectos biológicos, ecológicos, sociais e ambientais. 

“Meu país é endêmico para malária e é muito carente de profissionais especializados no assunto. Nunca tinha tido contato com atividades de campo e com insetos vetores. Gostei muito de ter ido a campo, ter tido contato com a natureza e ter aprendido a capturar insetos. Cada momento do curso me deixou ainda mais curioso para adentrar nesse universo. Meu foco é tentar, de alguma forma, mudar um pouco a realidade do local onde nasci. Tenho certeza de que o Detvetores será uma ponte para essa mudança”, frisou Enes, que veio para o Brasil cursar doutorado em Biotecnologia em Saúde na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).


Participantes da edição 2025 do Detvetores. Foto: Divulgação

 

Organizado pelo Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com o Laboratório de Entomologia Médica da Universidade da Flórida (Florida Medical Entomology Laboratory/FMEL), o curso proporcionou a mestrandos e doutorandos de diversas partes do país contato com professores de renomadas instituições nacionais e estrangeiras, contribuindo para a internacionalização e a colaboração entre os participantes.   

Dos Estados Unidos e Espanha, estiveram presentes os docentes Barry Alto, Nathan Burkett-Cadena, Lindsay Campbell e Tanise Stenn, da Universidade da Flórida, e Tania Ayllon, da Universidade Complutense de Madri. 

Do Brasil, participaram Nildimar Honorio, Fábio Burack e Bruno Carvalho (IOC/Fiocruz); Jefferson Fernandes (Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores, Nosmove/Fiocruz); Luciana Stanzani, Leandro Stanzani e Claudiney Biral (UFES); Helena Bergallo, Elizabete Lourenço e Euclides Neto (UERJ); Guilherme Sanches (Instituto Nacional da Mata Atlântica, INMA); Rafael Erbisti (Universidade Federal Fluminense, UFF); David Andrade (Universidade de São Paulo, USP); Renata Campos, Mariane Branco e Carlos Zanini (Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ); Agostinho Pereira (Universidade Federal de Sergipe, UFS). 


Agostinho Pereira, da Universidade Federal de Sergipe, ministra aula prática de captura de vetores. Foto: Max Gomes

 

As oficinas práticas com técnicas de captura de insetos e os trabalhos de campo são o grande diferencial do Detvetores e tornam o curso único no cenário entomológico. 

“A ocorrência de doenças de transmissão vetorial, como dengue, Zika, chikungunya, malária e Oropouche, por exemplo, depende das relações ecológicas entre vetores, hospedeiros e patógenos. Nesse curso, temos a oportunidade de trocar conhecimentos para o enfrentamento dessas doenças. Também podemos conhecer métodos utilizados para coletar e estudar os artrópodes vetores. Compartilhamos, ainda, detalhes sobre aspectos da biologia, ecologia e distribuição desses vetores”, explicou a mentora e coordenadora-geral do Detvetores, Nildimar Honório, pesquisadora do Laboratório de Interações Vírus-Hospedeiros do IOC e coordenadora do Nosmove/Fiocruz.


A coordenadora Nildimar Honório durante aula prática sobre captura de artrópodes vetores. Foto: Max Gomes

 

A edição 2025 do Detvetores contou com uma coordenação colegiada representando diferentes instituições parceiras: Vanessa de Paula (IOC), Luciana Stanzani (UFES), Jorge Rey e Tanise Stenn (FMEL/UF), Helena Bergallo e Euclides Neto (UERJ) e Rafael Erbisti (UFF). A comissão também integrou dois egressos do curso, que atuaram como monitores: Aline Cupolillo (IOC, edição 2023) e Raphael Leonardo (IOC, 2024).


Coordenação colegiada e a equipe de professores da Universidade da Flórida. Foto: Max Gomes

 

Fora do ambiente convencional de uma sala de aula, os estudantes tiveram a oportunidade de ter contato com etapas que precedem a bancada de laboratório. Especialistas em coleta de vetores apresentaram uma diversidade de armadilhas e demonstraram como realizar as coletas de insetos. 

“Considero importante os estudantes terem conhecimento de como é realizado esse tipo de trabalho, pois a atuação com vetores precisa ser um trabalho em conjunto do campo com o laboratório”, disse Jefferson Fernandes da Silva, agente de endemias especialista captura de mosquito do Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores (Nosmove/Fiocruz). 


"Os três mosquiteiros": Mateus, Larissa e Sandy aprendem a capturar mosquitos em aula prática ministrada pelo técnico Jefferson Fernandes. Foto: Vinicius Ferreira

 

A mestranda da Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, Larissa Leitão, destacou como a aula prática irá contribuir no desenvolvimento da sua pesquisa. 

“Eu nunca tinha ido a campo e essa aula foi fundamental, pois no decorrer da minha dissertação vou precisar coletar mosquitos e analisar se estão infectados com vírus do gênero Flavivírus, como dengue e febre amarela”, contou a jovem bióloga de 23 anos, natural de Ananindeua, no Pará. 

A doutoranda Sandy Gomes, do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC, compartilhou do mesmo sentimento positivo da amiga Larissa. 

“A atividade de campo foi muito importante, pois eu ainda não tinha tido contato com alguns tipos de armadilha”, completou a biomédica, de 25 anos. 


O estudante Artur Santana observa mosquito capturado em atividade de campo. Foto: Vinicius Ferreira

 

A docente Renata Campos, da UFRJ, destacou o caráter complementar da iniciativa.  

“O Detvetores é um curso multidisciplinar porque ele agrega professores de várias especialidades e isso complementa muito o trabalho que é desenvolvido aqui. Muitas vezes quem está no laboratório não entende o que acontece no campo. E aqui, temos a chance de ter várias trocas, entendendo as dificuldades do campo, o que é possível melhorar e como coletar material de qualidade”, enfatizou. 

“Participar do trabalho de campo com os estudantes é uma experiência enriquecedora. Eles aprendem com a gente e nós aprendemos com eles. Essa troca é muito importante”, complementou a pesquisadora Tania Ayllon, da Universidade Complutense de Madri. 

Ao todo, os estudantes analisaram cerca de 400 espécimes de artrópodes vetores coletados na região. 

"Com esse curso, os alunos têm a oportunidade de colocar em prática muitas coisas que, às vezes, ficaria só na teoria. Eles também conseguem fazer uma rede de contatos, porque tem vários professores e estudantes com diferentes expertises. Muitos saem do curso interessados em conhecer outras instituições, tanto nacionais quanto estrangeiras, tendo em vista o caráter internacional do Detvetores”, ressaltou a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC, Vanessa de Paula.


Aulas teóricas embasaram as atividades práticas e as apresentações finais dos trabalhos. Foto: Vinicius Ferreira

 

Antecedendo as atividades práticas, os alunos tiveram acesso a um rico conteúdo expositivo, a partir das aulas teóricas. Os temas foram diversos e fizeram um passeio por relevantes aspectos que ajudaram a entender a complexidade das doenças tropicais, muitas consideradas negligenciadas.  

Dentre os tópicos abordados podem ser destacados a importância das vigilâncias entomológica e epidemiológica, o impacto das mudanças climáticas na proliferação dos insetos, biologia e distribuição geográfica de vetores, animais reservatórios, dinâmica de transmissão de vírus, análises estatísticas, estratificação de risco e identificação de espécies. 

Inúmeros vetores foram abordados nas aulas, como mosquitos dos gêneros Aedes e Haemagogus, carrapatos, flebotomíneos, anofelinos, triatomíneos e maruins, que podem transmitir doenças de importância para saúde pública, como oropouche, dengue, Zika, chikungunya, vírus do Oeste do Nilo, febre amarela, leishmaniose, malária, febre maculosa e outros. 

“A troca de conhecimento entre os cientistas e os alunos é absolutamente importante. Sem essa conexão e sem cursos como este, especialmente em escala internacional, fica mais difícil implementar melhorias na saúde pública. Este curso nos permite reunir, compartilhar ideias e enfrentar essas doenças. Então, gostaria de dizer para esses jovens pesquisadores que compartilhem suas ideias, conversem com outras pessoas, façam uma boa pesquisa, publiquem com frequência e mantenham-se sempre positivos”, salientou Barry Alto, da Universidade da Flórida. 


O pesquisador Barry Alto durante uma das aulas do Detvetores. Foto: Max Gomes

 

Para o graduando do curso de Estatística da UFF, Richard Melo, de 20 anos, o Detvetores pode ser considerado um ‘divisor de águas’ na vida dele. 

“Gostei muito dessa experiência. Particularmente, sou uma pessoa muito tímida e não tenho hábito de conversar. Mas meus colegas de curso foram tão legais e gentis que fizeram com que eu me abrisse e depois disso não parei mais de falar”, brincou. 

“Foi muito emocionante ver os estudantes realizando apresentações incríveis em tão pouco tempo. Alguns nunca tinham tido contato com o mundo dos artrópodes vetores. Como o curso tem caráter internacional, o idioma oficial é o inglês. Foi impressionante ver como cada participante superou a barreira do idioma e se dedicou nas aulas, discussões e até em networking. Tivemos uma semana maravilhosa”, comentou Nildimar, emocionada. 

“Utilizando os conteúdos das apresentações e das aulas, nossa expectativa é preparar anais e artigos relacionados ao Detvetores”, adiantou a coordenadora-geral. 

 

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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